sexta-feira, 6 de março de 2015

A PEQUENINA


Todo dia ao abrir os olhos, questiona-se da real necessidade em levantar e seguir rumo ao seu local de trabalho.
Vive tão concentrado em seus problemas e conflitos que se esquece de observar as conquistas realizadas; o serviço mantenedor de seus almejos; os amigos saudosos; o amor paciente de sua esposa e filhos, assim como tantas outras dádivas ao seu redor.
Em mais um dia de lamúrias segue seu destino rotineiro.
A poucos passos da empresa, observa uma linda menina com cabelos desalinhados, rostinho sujo e roupas rasgadas. Ao notar ser observada, a pequena lhe sorri.
Surge nesse momento imagens de sua infância. Independente do que acontecesse e dos problemas a sua volta, sentia-se feliz. Hoje, porém, todos os dias parecem nublados.
Recordou sua descoberta antiga, de como as pessoas são diferentes do que demonstram, cruéis até mesmo.
A criação de uma armadura foi necessária. A princípio somente diante de conhecidos, depois dos mais próximos, e por fim, a todos, inclusive para si.
Tornara-se quem tanto repugnou.
Sentiu um toque de leve em sua mão, era a pequenina. Emudecidos observam-se durante alguns minutos. Ainda calados, a pequenina o abraça, olha diretamente em seus olhos e como numa leitura mental, lhe diz: seu verdadeiro eu grita por liberdade, desperte!
Beijando-lhe a face, parte.
Ainda em estado de contemplação, segue adiante, novamente rumo as suas atividades diárias, porém, a partir desta data, com uma indescritível sensação de reencontro e determinação em redescobrir sua essência.

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