domingo, 1 de setembro de 2013

Tudo tem cura

Não são somente os tapas, chineladas ou qualquer tipo de forma que se use pra atacar uma criança fisicamente em demasia e com crueldade que torna o adulto um ser traumatizado devido as lembranças de sua infância, mas também todos os tipos de agressões psicológicas, sentimentais ou omissões por parte dos responsáveis.
É incrível o quanto algumas pessoas são criativas quando se trata de atos desprezíveis. A linha entre educar e maltratar é abismal, sendo inescusável a prática da tortura sob o pretexto de agir em prol da educação ou da disciplina.
Extremante necessário cuidar das atitudes quanto aos seus. Hoje são crianças, amanhã adultos muitas vezes tão ausentes, omissos ou agressivos quanto às exemplificações de suas infâncias e adolescências. Dever-se-ia escolher não ter de retratarem-se ao invés de alongar a caminhada pra ambas as partes tornando-a dolorosa.
A pessoa que maltrata pode fingir nada ter ocorrido, mas sua vítima não esquece as agressões. O crescimento faz parte da estrada, não significando ataque de amnésia. Apesar de que, em alguns casos a dor é tanta, que causa perda de memória por alguns períodos, os quais cessam quando o adulto abre a porta do sótão onde a escondeu e consegue encarar a criança que ainda chora.
Como um ser consegue maltratar outro tão indefeso, pequeno, inocente das maldades de outrem e crente no amor sem trocas e hipocrisia? Pra que ensinar o rancor, ódio, magoa e sofrimento quando deverias e poderias amar e proteger? Por ter sofrido quando também era criança? Por ter sido maltratado? Pela omissão com a qual foi obrigado a conviver? Se assim o foi, porque causar o mesmo quando adulto?
Incrivelmente alguns motivam suas atitudes alegando preparação para as dificuldades da vida:
- “...assim você aprende o quanto a vida é difícil...’;
- “Pare de chorar menino, só sabe fazer isso, engole esse choro agora...”;
- “Não quero falar com você, não gostei do que fez ontem”.... meses sem conversar e nem olhar para a criança;
- “Sou o dono da casa, você segue as minhas regras, sabe por quê? Pois manipulo sua mãe, então desista”.
E com isso humilham, expõem, manipulam, isolam, ignoram, retiram o que lhe é de direito usando estes mesmos direitos ao seu bel prazer, menosprezam, enfim, o que seria uma vida saudável torna-se uma sobrevivência dolorosa.
O tempo passa depressa para o algoz e devagar pra criança. Quem hoje está no poder pensa que seu reinado é eterno. Onde ontem se via uma criança tem-se atualmente um adulto. Na mente as cicatrizes do passado escondidas atrás de portas com cadeados sem chaves. Buscas incessantes por respostas nunca encontradas. Carência demasiada e pessoas como bengalas.
Não é possível apagar o que passou, mesmo que o subconsciente o leve a fazê-lo temporariamente, as cenas cedo ou tarde são lembradas. Mas a vida ensina que tudo tem cura. A vontade de se encontrar, se perdoar, parar de chorar, somadas a coragem de encarar os monstros de sua história e a persistência em evoluir, amenizam as dores gradativamente. Seguir em frente é o melhor caminho, sendo extremamente importante e necessário ressignificar o passado, aprendendo a compreender tais resgates e aceitando ser dispensável retribuir o mal aos algozes, eis que estes já estão colhendo seus frutos ao passo do tempo que lhes cabe e o qual por vezes é diferente do nosso.

4 comentários:

  1. Olá Vanessa!
    Conscientização! Seu texto alerta e exprime caminhos a seguir. Mesmo que as pessoas por força das palavras, estas, não lhes causem mudanças perante a violência contra as crianças, por força de lei as mudanças já começam. Qualquer tipo de violência deve ser combatida, estejamos vigilantes. Conscientizar com ação, é conscientização! E parabéns mais uma vez. Divulgarei. Abraço fraterno, Rosa

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    1. Obrigada Rosa. Realmente, a exemplificação é tudo. Um grande abraço.

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  2. Entre todas as minorias, quando se trata de crianças no papel de vítima, é a maior manifestação de que a crueldade humana é capaz de se reinventar para em cada nova situação tornar-se mais e mais desumana... Belo texto... Parabéns

    Cintia Amano

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    1. Obrigada Cin. Façamos nossa parte. Dia-a-dia mudaremos esse contexto. Abraço.

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